Da ideia à primeira venda
22 de Outubro de 2021
Se você nunca ouviu falar sobre Derek Sivers, visite imediatamente seu site e leia pelo menos meia dúzia de seus textos. Parágrafo a parágrafo, seu pescoço vai ganhar mais elasticidade, e sua cabeça, cada vez mais livre para girar, começará a perceber um mundo muito maior do que aquele que até então você conhecia.
Foi lendo seu primeiro livro - Anything You Want - lá por setembro do ano passado que mais uma vez tive a ideia de criar um produto. O último dos meus fracassos fiz questão de compartilhar em Pérolas e mariscos. Esse novo produto, que espero ser uma pérola e não um amontoado de mariscos, automatizaria um conjunto de tarefas que eu fazia manualmente. Essa é uma das coisas mágicas que acontecem após terminar um livro do Sivers. Você tem vontade de parar tudo que está fazendo e mudar o mundo, mesmo que esse mundo não passe de um monte de tarefas manuais e repetitivas que você não aguenta mais fazer.
Comecei a dar fim naquelas tarefas repetitivas no segundo trimestre desse ano. Dez semanas depois, estava no ar o Typenik. Um Dicionário Aumentado de Inglês projetado para quem não o fala nativamente. Além de entregar tudo que um dicionário tradicional entrega, o Typenik te permite pesquisar não apenas por uma palavra, mas por uma frase ou parte dela. Conjuga verbos regulares e irregulares, e esclarece o significado por trás de gírias e expressões frequentemente usadas pelos gringos.
Minha meta era modesta. Vender uma única licença até o final deste ano. Uma milimétrica movimentação financeira. Quilômetros de satisfação. Money is the ultimate feedback, escreveu Kent Beck em Extreme Programming Explained.
Página de compra do Typenik
Passou-se uma semana. Duas, três, quatro. Zero vendas. Tudo bem, eu ainda não havia divulgado nada em lugar algum e o bom senso me ensinou que até o milagre precisa da reza para acontecer. Então na oitava semana do produto no ar, uma venda. Ainda tomado pela surpresa, percebi que a compra tinha sido feita por uma pessoa próxima a mim. Meta alcançada? Vejamos... Afim de me assegurar que a compra fosse consequência do interesse genuíno no produto, preferi considerar que a meta só seria alcançada quando a compra fosse feita por alguém que eu não conhecesse.
Com o milagre em mente, hora de me concentrar na reza. Expliquei o que era um English Augmented Dictionary no primeiro texto publicado no Blog do Typenik, comecei a promover o Typenik no Twitter e busquei entender melhor o que se passava na cabeça de outros não nativos em inglês no Reddit, Hacker News e Indie Hackers.
Discussão no Indie Hackers
A primeira venda para uma pessoas desconhecida finalmente acontece quase cinco meses depois de ter colocado o produto no ar. Maior que a surpresa com a venda foi a felicidade em saber que o meu mais novo cliente era um designer que eu muito admiro. Uma espécie de ciclo de surpresas positivas se completava na minha frente, já que o Pliim, produto criado por esse designer, foi justamente um dos que me inspiraram a criar o meu próprio produto.
Construir e vender um software de maneira independente me fez desconfiar que é possível desenvolver produtos com uma visão muito diferente daquela na qual nós programadores estamos acostumados a lidar diariamente. Uma visão oposta àquela disseminada pela Igreja do Sétimo Dia da Disrupt-o-mania e baseada nos evangelhos do Growth Hacking, Three Comma Club e 30 Under 30. Uma visão guiada pelo suficiente e não pela ostentação, e que prefere se mover lentamente sem quebrar coisa alguma.
[...] penso que possa existir um caminho da produção de softwares como existe a do produtor local de alimentos. Um contato direto com as pessoas que usam, menor escala e sem uma corrida desenfreada por mais usuários.
Obrigado Zé!