Trinta e sete
A humanidade frequentemente analisa as ondas de rádio vindas do espaço na busca por inteligência extraterrestre. Desde que essas análises começaram, a origem de quase todos os sinais foi identificada. Trinta e sete delas, porém, permanecem sem explicação.
Tão intrigante quanto ondas de radio vindas do além, foi a capacidade de uma pequeníssima empresa chamada 37signals lançar, desde o final dos anos 90, incalculáveis meteoros sobre o senso comum no que se referente a design, produto e programação.
O primeiro meteoro talvez tenha sido o tratado que dá origem à própria empresa. Seu manifesto. Escrito em 1999 e contendo 37 micro-textos que, mesmo depois de duas décadas, continuam repletos de frescor.
Crescer fazendo melhor, não mais.
O desprezo por tudo aquilo que pode tirar o foco do verdadeiro espírito da web fica escancarado na frase que abre o manifesto: The web should empower, not frustrate. Alguns parágrafos adiante, No Awards Please deixa claro que o julgamento da indústria do design jamais influenciaria o resultado final do trabalho produzido. O meio jamais deslocaria para si o foco do fim. Ser útil e fácil de usar.
Empresas desejam crescer. Para crescer, as empresas procuram entregar mais valor. Em uma boa parcela dos casos, entregar mais valor acaba virando oferecer mais serviços. Ao muito bem delimitar o serviço oferecido, em Not Full Service a empresa combate elegantemente a tentação de crescer fazendo mais ao invés de crescer fazendo melhor.
We think companies that claim they can do everything actually excel at nothing.
37 Signals Manifesto [04]
Sentido acima das aparências.
Novas tecnologias alimentam a definição de novidade. Novidades alimentam o desejo de estar atualizado. E o desejo de estar atualizado pode atrapalhar importantes decisões. Em Just Because You Can, Doesn't Mean You Should são descartadas as decisões que se baseiam num raso é tão legal! ou num todo mundo está usando! Mais alguns parágrafos e, em Tulipomania, encontramos a declaração:
Trends are temporary. Don't just do something because everyone else is doing it – do something because it makes sense.
37signals Manifesto [28]
Usabilidade é secundária.
Para alguns, poderia soar como um sacrilégio dizer que usabilidade não é o fator mais importante de um site. Make it Useful nos lembra então que antes de ser usável, o site precisa ser útil.
Usability is always secondary. It's never the most important thing about an experience. I will accept poor usability if I get what I need, if the total experience is great. I will reject perfect usability if I am not rewarded with a useful, engaging experience.
Usuário lê.
Uma premissa que de vez em sempre alguém adiciona a uma discussão é: usuário não lê. A propósito, O livro Don't Make Me Think reserva um parágrafo em seu segundo capítulo para os devidos esclarecimentos sobre Como nós realmente usamos a web:
What users actually do most of the time (if we're lucky) is glance at each new page, scan some of the text, and click on the first link that catches their interest or vaguely resembles the thing they're looking for. There are usually parts of the page that they don't even look at.
Seria o usuário realmente esse desespero em forma de pessoa, ou o desinteresse pela leitura seria porque a redação é apenas decepcionante? Em Copy Righting, a empresa lança a pergunta: Você o leria se não o tivesse escrito? Muitas empresas acreditam que se tá bonito, tá bom e cometem o pecado de não se importarem tanto o quanto deveriam com a redação de seus sites. Toda vez que um texto não seduz, não provoca ou não entretém, o usuário realmente não vai ler.
Assim como seu manifesto, muitas outras provocações seriam lançadas em forma de livros. O que todas têm em comum parece estar intimamente ligado ao nome da empresa, 37signals. Separar o sinal de qualidade da quantidade infindável de ruído que nos cerca.