Rafael Camargo

Usando Git Rebase para manter seu histórico de commits limpo e expressivo

Alguns dos mais importantes fatores a serem observados em um Pull Request são nível de legibilidade do código, quão bem a nomenclatura de variáveis e funções é capaz de expressar sua intenção, e quão bem distribuídas estão as responsabilidades, para que, ao ler a implementação, não tenhamos que armazenar dezenas de variáveis em nossa frágil memória humana. Em resumo, quão bem contada está a história que aquelas alterações representam.

Existe, porém, um outro lugar no Pull Request onde uma história é contada e que, infelizmente, tem bem menos atenção dos revisores do que o código: o histórico de commits.

Todo commit representa a adição de um novo capítulo na biografia daquele software. A mensagem associada a cada um desses commits é a nossa oportunidade de resumir muito bem aquele acontecimento, a fim de facilitar um eventual trabalho de pesquisa que algum colega, ou nós mesmos, venha a fazer no futuro para descobrir quando exatamente uma funcionalidade foi incluída ou removida, quando e como foi feita a correção de um determinado problema, ou, até mesmo, qual foi a justificativa sobre o motivo de uma estratégia não tão comum ter sido adotada.

Ainda assim, não é raro nos depararmos com mensagens do tipo wip, fix tests ou code review. Essas mensagens não colaboram em nada com a biografia do software. Existindo ou não, acabam por dar na mesma.

Como podemos então zelar por um histórico de commits expressivo e relevante que transforme a jornada de um software numa história bem contada? A resposta é: editando o histórico sempre que necessário.

Uma das mais convenientes estratégias usadas para editar o histórico de commits é o git rebase.

Inicializando a edição

Ao iniciar a edição do histórico de commits usando o modo interativo (-i) do comando git rebase, é necessário informar a partir de qual commit você pretende começar as alterações.

Se o que você precisa é apenas renomear o commit mais recente do histórico, passe como parâmetro do comando o valor HEAD~1:

git rebase -i HEAD~1

Mas se o que você precisa é unir os dois últimos commits ao antepenúltimo, passe como parâmetro o valor HEAD~3, uma vez que precisarás editar os 3 commits mais recentes do histórico:

git rebase -i HEAD~3

Dica: Ao executar um dos comandos acima, você vai notar que um editor de texto será aberto. O editor de texto padrão associado ao Git costuma ser o Vim. Eu não sou fã de Vim, por isso, editei essa configuração do git definindo o VS Code como editor de texto padrão. Dessa forma, todo git rebase passará a abrir o documento de edição do histórico não mais no Vim, mas sim no VS Code. Se você simpatizou com a minha preferência, basta executar o seguinte comando para fazer a mudança:

git config --global core.editor "code --wait"

A flag --wait informa ao Git que a execução de um comando deve aguardar até que o documento que foi aberto no editor seja fechado.

Entendido o funcionamento da inicialização do comando, é hora de entender como renomear, unir e excluir commits.

Renomeando um commit

Após ter feito o commit, você pode eventualmente notar que a mensagem escolhida não expressa muito bem o significado dele. O uso do git rebase permite a você editar muito facilmente a mensagem de um commit já criado, seja ele o mais recente ou não no histórico.

Supondo que você precise renomear o último commit do histórico, execute:

git rebase -i HEAD~1

No documento que será aberto no editor de texto, você verá na primeira linha o termo pick, o código que identifica o commit, e a mensagem que foi associada a ele. Todo o resto do documento estará preenchido com instruções referentes ao próprio comando rebase.

Troque o termo pick por r (reword), salve e feche o arquivo. Um novo documento será aberto exibindo a mensagem associada ao commit (primeira linha) e, na sequência, diversas outras informações referentes ao commit, como data, horário e arquivos alterados. Edite a mensagem exibida na primeira linha como bem desejar, salve e feche o arquivo.

Pronto! Executando o comando git log, você pode confirmar que a mensagem do último commit foi atualizada de acordo com sua edição.

Demonstração de um commit sendo renomeado

Unindo commits

Existem situações em que mais de um commit acabam fazendo parte de uma mesma alteração e, portanto, poderiam ser reduzidos a um único commit apenas. Neste caso, o comando a ser usado é o squash. Ele une dois ou mais commits em apenas um.

Considere a situação na qual a funcionalidade de excluir um produto está sendo implementada, e o estado atual do histórico de commits é o seguinte (mais antigo no topo):

feat: add deletion to the product resource
feat: add deletion button to the product actions
feat: add soft delete param to the product resource

Embora o penúltimo e o antepenúltimo commits tenham preocupações diferentes — um alterando interface gráfica e outro alterando um endpoint — e, portanto, seja válido deixar as alterações em diferentes commits, o último commit trata ainda do endpoint, como se fosse apenas um caso de uso que foi esquecido de ser adicionado ao antepenúltimo commit.

Neste caso, a história contada no histórico poderia ser encurtada a dois commits, unindo o último commit ao antepenúltimo. Para tal, o rebase deve ser iniciado com o comando a seguir:

git rebase -i HEAD~3

No documento de edição do histórico, o último commit foi movido para a penúltima posição, e o termo pick trocado por s (squash):

pick dc979e8 feat: create blog post delete resource
s f3abffc add soft delete param to the product resource
pick 24b7de5 feat: add deletion button to the product actions

Ao salvar e fechar o documento, o Git abrirá novamente o editor de texto para que você opte por deixar as duas mensagens no histórico, manter apenas uma, ou escrever uma mensagem completamente nova. Salvando e fechando novamente o arquivo, o rebase estará concluído.

Demonstrando a junção de dois commits

Dica: Nos casos em que a mensagem do commit que receberá o squash continue expressando bem o seu significado após a união dos commits, você pode usar o termo f (fixup) ao invés do s. O fixup tem o mesmo efeito do squash, mas elege como mensagem final, a mensagem do commit que recebe o fixup.

Excluindo commits

Se o que você precisa é simplesmente eliminar um commit, a tarefa é bastante simples. Considerando que o commit a ser eliminado é o último commit feito, basta inicializar o git rebase:

git rebase -i HEAD~1

Em seguida, trocar o termo pick por d (drop) no documento de edição do histórico, salvar e fechar o arquivo. Pronto! Ao executar o comando git log, será possível confirmar o sumiço do commit excluído.

Demonstrando a exclusão de um commit

Atenção!

Você já deve ter ouvido falar que o Git é uma ferramenta muito poderosa, mas também muito perigosa. Ao editar o histórico, vale a pena prestar bastante atenção em alguns pontos:

  1. Se durante a execução das alterações surgirem conflitos e você não souber como resolvê-los, pressione Cmd+C no terminal e rode o comando git rebase --abort. Pronto! Tudo será cancelado e você voltará para o estado que o histórico tinha antes de iniciar o rebase.

  2. Se você já tiver enviado para o repositório remoto os commits que está tentando alterar, só conseguirá mandar as novas alterações para o repositório remoto passando a flag --force para o comando push. Isso porque haverá obviamente uma diferença entre o estado do histórico no repositório remoto e o estado do histórico na sua máquina. Antes de executar o comando push passando a flag --force, certifique-se de que só você está trabalhando na branch que possui tais commits. Do contrário, você corre o risco de excluir commits de outras pessoas e gerar um caos desnecessário.

Se você gostou do que leu aqui e quiser descobrir ainda mais possibilidades oferecidas pelo comando git rebase, acesse a documentação oficial do Git.