Da ideia à primeira venda
Se você nunca ouviu falar sobre Derek Sivers, visite imediatamente seu site e leia pelo menos meia dúzia de seus textos. Parágrafo a parágrafo, seu pescoço vai ganhar mais elasticidade, e sua cabeça, cada vez mais livre para girar, começará a perceber um mundo muito maior do que aquele que até então você conhecia.
Foi lendo seu primeiro livro, Anything You Want, lá por setembro do ano passado que mais uma vez tive a ideia de criar um produto. O último dos meus fracassos fiz questão de compartilhar em Pérolas e mariscos. Esse novo produto, que espero ser uma pérola e não um amontoado de mariscos, automatizaria um conjunto de tarefas que eu fazia manualmente. Essa é uma das coisas mágicas que acontecem após terminar um livro do Sivers. Você tem vontade de parar tudo que está fazendo e mudar o mundo, mesmo que esse mundo não passe de um monte de tarefas manuais e repetitivas que você não aguenta mais fazer.
Comecei a dar fim naquelas tarefas repetitivas no segundo trimestre desse ano. Dez semanas depois, estava no ar o Typenik. Um Dicionário Aumentado de Inglês projetado para quem não o fala nativamente. Além de entregar tudo que um dicionário tradicional entrega, o Typenik te permite pesquisar não apenas por uma palavra, mas por uma frase ou parte dela. Conjuga verbos regulares e irregulares, e esclarece o significado por trás de gírias e expressões frequentemente usadas pelos gringos.
Minha meta era modesta. Vender uma única licença até o final deste ano. Uma milimétrica movimentação financeira. Quilômetros de satisfação. Money is the ultimate feedback, escreveu Kent Beck em Extreme Programming Explained.
Página de compra do Typenik
Passou-se uma semana. Duas, três, quatro. Zero vendas. Tudo bem, eu ainda não havia divulgado nada em lugar algum e o bom senso me ensinou que até o milagre precisa da reza para acontecer. Então na oitava semana do produto no ar, uma venda. Ainda tomado pela surpresa, percebi que a compra tinha sido feita por uma pessoa próxima a mim. Meta alcançada? Vejamos… Afim de me assegurar que a compra fosse consequência do interesse genuíno no produto, preferi considerar que a meta só seria alcançada quando a compra fosse feita por alguém que eu não conhecesse.
Com o milagre em mente, hora de me concentrar na reza. Expliquei o que era um English Augmented Dictionary no primeiro texto publicado no Blog do Typenik, comecei a promover o Typenik no Twitter e busquei entender melhor o que se passava na cabeça de outros não nativos em inglês no Reddit, Hacker News e Indie Hackers.
Discussão no Indie Hackers
A primeira venda para uma pessoas desconhecida finalmente acontece quase cinco meses depois de ter colocado o produto no ar. Maior que a surpresa com a venda foi a felicidade em saber que o meu mais novo cliente era um designer que eu muito admiro. Uma espécie de ciclo de surpresas positivas se completava na minha frente, já que o Pliim, produto criado por esse designer, foi justamente um dos que me inspiraram a criar o meu próprio produto.
Construir e vender um software de maneira independente me fez desconfiar que é possível desenvolver produtos com uma visão muito diferente daquela na qual nós programadores estamos acostumados a lidar diariamente. Uma visão oposta àquela disseminada pela Igreja do Sétimo Dia da Disrupt-o-mania e baseada nos evangelhos do Growth Hacking, Three Comma Club e 30 Under 30. Uma visão guiada pelo suficiente e não pela ostentação, e que prefere se mover lentamente sem quebrar coisa alguma.
[…] penso que possa existir um caminho da produção de softwares como existe a do produtor local de alimentos. Um contato direto com as pessoas que usam, menor escala e sem uma corrida desenfreada por mais usuários.
Obrigado Zé!